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PLANEAMENTO

O solo é um recurso escasso que exige uma ocupação racionalizada, caso contrário o resultado é a desorganização urbana.

O que hoje observamos é a progressiva descaracterização de uma área vocacionada para a agricultura, daí a necessidade de reflectir sobre ela, por forma a orientar as intervenções na actualidade e no futuro.

Mas, não é de hoje esta questão. Vem de longe a preocupação por problemas relacionados com o crescimento da cidade.

Assim, de um urbanismo ligado às necessidades e caprichos individuais, passa-se a um tipo de intervenção que luta contra uma má organização do espaço e impõe um planeamento prévio, que deverá ter em conta a «estética» espacial e, principalmente, o fim a que se destina.

Terá sido o professor Ezequiel de Campos (1932), o primeiro a revelar preocupações neste âmbito ao escrever o seu «Prólogo ao Plano da Cidade do Porto».

Dada a vocação industrial e mercantil da cidade, apela para a necessidade de uma melhoria das vias de comunicação e de uma organização funcional, referindo a freguesia de Campanhã como um bom exemplo da dispersão da indústria e residência operária.

Ezequiel de Campos, aponta também para a precaridade das vias em Campanhã afirmando que se vem «... de Gondomar pela rua do Freixo, íngreme; de Penafiel pela Rua de S. Roque da Lameira, estreita e tortuosa...».

Não podemos ignorar a veracidade das palavras deste autor já que, decorridos mais de 50 anos, e no que respeita à Rua de S. Roque da Lameira, à irregularidade do seu traçado deve juntar-se hoje o intenso tráfego que a percorre, por falta de vias de penetração alternativas.

Refere, então, como possíveis acessos a construir, uma via que «De Valbom e Gondomar, subindo da marginal de Campanhã, às Fontainhas para atingir principalmente a Rua Alexandre Herculano...», e outra «De Penafiel à Avenida Camilo e ao Campo 24 de Agosto, donde a irradiação sobre a cidade...».(9)

Com o intuito de descongestionar o trânsito a cota baixa, sugere ainda a construção de uma marginal de Campanhã à Foz. Obra depois empreendida, corresponde, na freguesia de Campanhã, à Avenida de Paiva Couceiro.

Ezequiel de Campos afirma, por fim, que sendo esta área «... tão congestionada de relevo e tão embaraçada de vielas e congostas...». (10), onde subsistia uma nítida desorganização, principalmente em termos funcionais, tomava-se premente definir áreas especializadas (industriais, residenciais,...) e repensar as estruturas funcionais existentes.

Em 1952 com o «Plano Regulador», Ando de Almeida Garrett apresenta a moderna concepção de cidade dos e para os países que sofreram graves mazelas no pós-guerra.

Tendo por base o trabalho do seu antecessor (Ezequiel de Campos), contribuiu para a definição das principais vias de comunicação, bem como para o ordenamento geral da cidade, tendo por base a delimitação de áreas com funções específicas zonamento.

Propôs o prolongamento da Avenida de Fernão de Magalhães até à Estrada da Circunvalação, empreendimento responsável pela expansão da mancha construída na década de 60, que cobriu toda a área de cota mais elevada da freguesia (Cruz, Antas, Contumil).

Via de longo traçado, sucedânea dos velhos caminhos para norte, evidencia pela variedade de estilos arquitectónicos dos seus edifícios as diferentes épocas que presidiram à sua abertura.

Preconiza ainda Almeida Garrett o aproveitamento da ponte D. Maria para o trânsito rodoviário, afigurando-se-lhe importante a construção de uma nova travessia ferroviária. Deve notar-se, a propósito, que já Ezequiel de Campos referiu a necessidade de uma nova ponte e, só agora, decorridos cerca de 40 anos, se iniciou a sua concretização.

Antão de Almeida Garrett vai mais longe, predizendo muito do que só nos nossos dias está a ser feito: «Pela nova Ponte D. Maria, o tráfego pesado poderá seguir por um troço da... Avenida de Cintura que por Campanhã se dirige a Contumil..., tomará a Circunvalação que o ligará à via Nordeste, caminho de Guimarães e Penafiel». (11)

Mais tarde (1964), Robert Auzelle retoma algumas das concepções anteriores, contribuindo não para a execução de grandes empreendimentos, mas para a continuação de pequenas construções, reiterando, de forma bastante rígida o zonamento sugerido pelos seus antecessores.

Três autores, três abordagens diferentes de uma mesma realidade - o Porto - que pretenderam resolver os problemas de uma cidade e da sua população.

Foi com o intuito de melhorar a qualidade de vida desta população, sabendo que é impossível dotar a cidade com todos os equipamentos necessários de um momento para o outro, mas que é possível minorar essa falta, que em 1987 se apresentou o «Plano Geral de Urbanização».

No que respeita a funções de âmbito social, refere a implementação, na freguesia de Campanhã, de um pólo cultural junto ao Palácio do Freixo, para o que considera urgentes as obras de hidráulica da foz dos rios Tinto e Torto.

Propõe ainda a instalação de um quartel de Bombeiros Municipais nas proximidades da Rua de S. Roque da Lameira e, com a intenção de preservar os espaços verdes aí existentes, apresenta como viável a estruturação de um parque urbano na área que envolve os rios Tinto e Torto - Pinheiro e Bonjóia na margem direita do primeiro; Freixo, Granja, Furamontes e Calvário ao longo do segundo.

Mais a norte, no Monte da Bela Vista, foi definida uma outra área verde já existente), junto ao quartel da GNR, cuja preservação se reveste da maior importância dada a fraca densidade de jardins públicos na cidade.

As zonas industriais localizam-se segundo este plano, ao longo da linha de caminho-de-ferro, principalmente nos lugares da Corujeira e Contumil e ainda, a par de áreas definidas de serviços e equipamentos, nos lugares do Freixo, Pinheiro, Vila Meã e Currais.

No que respeita aos transportes rodoviários, a alteração mais significativa refere-se ao «Complexo Rodo-Ferroviário de Campanhã», onde ocorrerão importantes fluxos com vista ao descongestionamento da cidade, através da construção da ponte do Freixo - Areinho, da auto-estrada e seus acessos e da nova estação.

Por esta freguesia passará, portanto, o 3.° troço da Via de Cintura Interna, que liga a futura ponte, no Freixo, à auto-estrada Porto-Braga, o que, dada a sua fraca utilização como acesso ao interior da cidade, conduziria ao aparecimento de mais uma barreira à circulação de pessoas dentro da freguesia, se não fosse previsto um acesso em sobreposição à linha de caminho-de-ferro entre as estações de Campanhã e Contumil.

Relativamente aos transportes colectivos rodoviários refira-se que estes disporão, junto da estação de caminho-de-ferro e do Campo 24 de Agosto, de paragens onde se efectuará o transbordo de passageiros dos transportes urbanos para suburbanos, periféricos e de longo curso, designadas de estações inter-modais.


NOTAS:

(9) CAMPOS, Ezequiel de - Prólogo ao Plano da Cidade do Porto, 1932, p. 28.

(10) CAMPOS, Ezequiel de - op. cit., p. 29.

(11) GARRETT, Antão de Almeida - Plano Geral de Urbanização da Cidade do Porto, 1947, p. 8.


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